sexta-feira, 2 de julho de 2010

Eros e Psique

Um dia desses estava eu conversando com um grupo de adolescentes, alunos meus, quando surgiu um tema que nunca sai de moda: o beijo. Na realidade, fui eu quem puxou o assunto após observarmos em um livro uma famosa escultura de Antônio Canova que retratava o amor que uniu Eros e Psique; segundo a mitologia grega, eles se apaixonaram e viveram felizes após a permissão de Zeus para o casamento entre uma mortal e um deus. Não antes de enfrentarem grandes provações, típicas dos maiores romances cinematográficos.

Expliquei aos estudantes que aquela escultura havia causado certo desconforto na época e eles não entenderam o porquê, pois não viram nada demais na obra. Aliás, o assunto do beijo também não pareceu nada desconfortável para aqueles meninos e meninas ali presentes. Segundo eles, o ato de beijar é visto hoje como algo quase que banal. Não foram bem estas as expressões usadas, mas garanto que foi a impressão que me deixaram.

Talvez o que mais me surpreendeu não foi o fato deles dizerem que “o beijo poucas vezes envolvia sentimento”, afinal de contas estamos na era do “ficar”. O que me assustou foi a falta de sentimentos que envolvem um relacionamento entre duas pessoas, segundo eles deixaram transparecer na conversa.

Percebo que a maioria das pessoas carrega um pouco de saudosismo quando se fala de romantismo. Nossos pais estão sempre dizendo “no meu tempo as pessoas eram mais românticas”. Hoje ouço minha geração dizendo “no meu tempo não era como hoje”... Parece que não percebemos que as coisas mudam mesmo, mas confesso que no dia daquela conversa fiquei pensando se daqui a alguns anos o sentimento do amor, do romantismo irá se apagar por completo nas pessoas.

No outro dia, na mesma turma, percebi um ar de tristeza entre todos. Principalmente em uma menina sentada no cantinho da sala, com os olhos marejados. Aos poucos fui sondando os estudantes para descobrir o motivo da melancolia. Eles então me contaram que um dos garotos da turma iria mudar de cidade e, consequentemente, de escola. A garota que tinha os olhos cobertos por disfarçadas lágrimas era namorada dele e os colegas compadeceram-se com a dor dela. Então senti uma pontinha de alívio, pois percebi naquele momento de aflição que o sentimento ainda existe nos coraçõezinhos deles. A forma de externar é diferente de pouco tempo atrás, mas que existe, existe! Acho que Eros (o cupido) sempre encontra novas formas de se juntar a Psique (a alma).

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