segunda-feira, 19 de julho de 2010

Nos tempos de criança

Estava em uma cidadezinha de Minas, visitando uns parentes, e resolveu sair para uma caminhada. Recordava os bons momentos que havia passado naquele lugar quando criança, aprontando peraltices com seus primos e amigos. Lembrou a vez em que se perderam na fazendo do avô, que ficava a poucos quilômetros dali, e quando foram surpreendidos “roubando” o trator do tio para umas voltinhas. Sem contar as travessuras vividas naquela bela cidade, que hoje contrasta o ar interiorano com as linhas da modernidade.
Andava perto da casa do seu Tomás, um velho senhor que pegava no seu pé quando garoto, e de súbito viu uma coisa que mexeu com ele: uma linda goiabeira, totalmente carregada de frutos maduros. Estava no meio de um quintal de uma velha casa, cercada de muros altos, mas era tão grande e frondosa que podia ser vista de longe. Chegou ao portão e pensou em pedir algumas goiabas ao dono da casa. Bateu palmas várias vezes, mas ninguém atendeu. Pensou em quanto tempo não comia uma goiaba direto do pé. Lembrou dos deliciosos sucos feitos por sua amável vozinha. Sucos de goiaba no final da tarde. Que saudade!
Bateu palmas novamente e nada. Olhou para um lado e outro e, não vendo ninguém, resolveu colocar o lado criança para fora. Saltou o muro com uma velocidade que até o surpreendeu. Verificou cuidadosamente se não havia algum cachorro bravio naquele local. Viu só um papagaio que fazia um terrível barulho, mas não falava uma só palavra que pudesse ser compreendida.
Caminhou vagarosamente até a árvore, retirou rapidamente o sapato e escalou galhas e galhas como nos tempos de criança. Perdeu a conta de quantas goiabas comeu. Estavam deliciosas. Tinham gosto de infância. Desceu - agora menos ansioso -, ajeitou a camisa amassada, abaixou-se para calçar os sapatos e quando levantou tomou um susto bizarro. Olhando para ele estava um velho... Muito velho! Olhava furiosamente, respirando ofegante. O “ladrão de goiabas” ficou totalmente rubro, em pejo. Pensava em que desculpa dar quando, observando mais atentamente, percebeu que conhecia aquele velhinho. “Seu Tomás?”, perguntou, ainda em dúvida. Neste momento o papagaio gritava sem cessar: “surra, surra”. O velho nada falou; simplesmente retirou o cinturão de couro que ajudava a segurar a quase apodrecida calça de pano e começou a desferir golpes contra o “peralta”. O homem, surpreendido, não sabia o que fazer. Ficou apenas observando aquele velho que não tinha forças para aplicar-lhe tal corretivo. Esperou então que a surra se completasse, retirou da carteira a maior nota que possuía naquele momento, entregou ao pobre velho e saiu caminhando, ainda envergonhado, em direção ao portão. O ancião ficou gritando ordens que ele não pôde compreender.
Ao sair da casa, agora achando graça do acontecido, concluiu: definitivamente era o seu Tomás.

Um comentário:

  1. momentos bons e quantos "Sr Tomás" não existiram nas infâncias realmente vividas. hoje o tempo é outro e as infâncias também.

    Um abraço!!

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