sexta-feira, 2 de julho de 2010

O sapato

Dia desses estava eu cantarolando “Raul”, que narrava em uma de suas músicas seu peculiar problema com sapatos: “eu calço é 37; meu pai me dá 36...” e lembrei-me de uma desventura vivida por outro baiano, este amigo meu. Estava ele, como rotina, dirigindo-se ao almoço em um shopping perto de seu trabalho. Despreocupado, como de costume e de berço, não podia prever o contratempo e a cólera que enfrentaria naquele dia.

Chegando ao seu destino e supondo o que comeria percebeu uma leve brisa entre os dedos do pé. O solado de seu sapato havia descolado, literalmente. O que fazer? Não podia perder tempo: entrou na primeira loja de calçados que encontrou em seu caminho. Nem teve tempo de escolher o novo par e um solícito vendedor o abordou – se me permite a licença, o verbo “abordar”, em alguns dicionários, tem como um de seus significados “assaltar, saltando a bordo do navio inimigo”; logo a metáfora será revelada – e aproximando-se rapidamente fez uso do clichê: “Em que posso ser útil?”. Após uma breve explicação do pequeno infortúnio, o rapaz trouxe alguns pares de sapato que estavam em promoção.

Perdidos alguns minutos na escolha, sobrou apenas uma opção, pois, a bem da verdade, os outros modelos eram de gosto duvidoso.

- Qual é o seu número? - perguntou o vendedor.

- Calço 40.

- Bom... O senhor realmente gostou deste modelo, ou gostaria de ver outros sapatos?

- Só gostei deste!

- Certo... O senhor me aguarde só um minuto, vou buscar seu número em nosso estoque, concluiu o vendedor, estranhamente agitado.

Decorridos “vários” minutos, chega o tão esperado par em uma caixa lacrada, seguido de uma indagação:

- Posso embrulhar?

- Claro que não, vou calçar agora, ou não te expliquei a situação? – retruca o baiano.

Ansioso para resolver o problema e sem parar para conversar, transação efetivada, segue seu rumo meu amigo, com sapato novo no pé e velho na sacola.

Ao retornar do almoço, sentia uma dor insuportável em seus pés. Tirou os sapatos, conferiu o número, olhou para um colega que estava ao seu lado e bradou:

- “Ó pá isso”!!! “Fi duma...”!!!

O número do calçado havia sido raspado, mas ainda era possível ver o número trinta e oito de modo turvo.

- Se eu fosse você, iria agora mesmo na loja onde comprou estes sapatos para acertar as contas com o vendedor – disse o colega de trabalho, tomando as dores.

- Que nada – respondeu em um misto de indignação e conformismo - vou dar este sapato pro primeiro “lavador de carro” que encontrar... tem Super Bond aí?

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